22 de dezembro de 2009

DE QUE LADO VOCÊ SAMBA? - No terreiro da I Conferência Nacional de Comunicação, o samba do povo quase não teve vez.

A conferência de comunicação é um grande terreiro. Sons de todos os lados vão ecoando com melodias diversas, pessoas vão chegando e se colocando nos seus lugares. Movimento. O circo está armado. Logo na chegada, percebemos como cada um se mexe, move as pernas e braços, deslizam seus corpos para compor uma coreografia, as vezes com unicidade, às vezes com uma dissonância. Então os batuques começam a ser ampliados com cada vez mais força, fazendo com que o terreiro comece a tomar sua cara. É aí que percebemos quem samba com quem.

Empresários nunca sambaram, estão verdes na roda. E gritam: se o samba que me interessa não tocar eu me retiro. Instala-se um caos. E os nossos sambas há muito negligenciados, ficarão de fora mais uma vez? Quem controla o pandeiro?

Poder público samba quando lhe convém sem prestar atenção em como o povo quer sambar. No final das contas o que importa é continuar como provedor do samba, em lugar de destaque, mais do que promover um bom batuque pra todos e todas.

Movimento social já samba há muito tempo. Inclusive o samba foi por eles propostos. Mas no seio dos movimentos tem o samba chula, arrastado, samba de panela, samba miudinho, pagodinho rasteiro. Quase sempre com pouco consenso.

O que aconteceu na conferência foi um desatino e muito barulho que resultou em articulações no qual o samba geral foi deixado de lado em favor de interesses mínimos. Os empresários tiveram o que queriam, o samba tem que ficar como está, afirmaram. O poder público queria os empresários na roda e parte da sociedade civil samba de outro lado, fazendo com que a magia do povo a balançar os quadris quase se comprometesse. O acordo feito por quase todas as organizações[i] da sociedade civil na organização da roda (com exceção do Intervozes), quase que nos fazia ter que sambar pagode sulista de playground de forma hegemônica. Ainda uma boa parte dos movimentos levantou poeira do chão, mas a gente já tinha perdido na escolha das músicas.

A gente decidiu não deixar de sambar e levar nas brechas as músicas de samba de raiz que a gente acha importante pra memória e desenvolvimento desse país. Agora mostrada de forma clara que do lado direito e azul[ii] do terreiro a gente tem pouco com quem contar, continuando em sua grande maioria a tentar nos oprimir na roda. Porém, o mais triste é saber que do nosso lado vermelho uma parte samba direitinho do outro lado.

Enquanto eu escrevo esse texto canta Maria Rita no telão: “meu samba é de vida e não de morte, meu samba vem pra cá e traz a sorte... um samba certo pra você sambar”.



[i] Algumas organizações que sambaram do outro lado foram: Abraço, FNDC, CUT, Fenaj, e outras.

[ii] Os empresários foram cadastrados com a cor azul, os representantes do poder público com a cor amarela e os movimentos sociais com a cor vermelha na conferência nacional de comunicação.

Um comentário:

Larissa Santiago disse...

tudo com muita simbologia!